Careta, quem é você? Aspectos do carnavalesco nas manifestações afro-brasileiras como estratégias de subversão e resistência
Resumo
O elemento da não-conformidade, em oposição ao autoritarismo da cultura oficial, presente nas festividades carnavalescas populares europeias viajou com os colonizadores europeus para as Américas, onde se encontraram com a diversidade de tradições africanas e indígenas, dando origem a novas formas de manifestação no intenso caldeirão de culturas que resultou do colonialismo. Existindo sob um sistema colonial disposto a suprimir quaisquer aspectos subversivos ou marginais, a cultura negra diaspórica fez uso de modos carnavalescos de representação para subverter temporariamente a autoridade das instituições oficiais, tendo a resistência contra o poder dominante por meio do cruzamento cultural como parte importante da sua sobrevivência nesse ambiente, conectado com as esperanças, aspirações e tragédias locais daqueles que ocupam as margens da sociedade até hoje. No Brasil, muitas dessas manifestações marginais acontecem como festivais ligados ao período das celebrações católicas. Nesta pesquisa, concentrei-me em como esses elementos podem ser identificados nas manifestações populares coletivas das "Caretas do Acupe" e do "Nego Fugido", ambas presentes na região do Recôncavo Baiano, no Brasil. As estratégias encontradas nessas manifestações permeiam as manifestações afro-americanas associadas à resistência cultural negra e mostram casos em que as práticas tradicionais africanas cruzaram e ressignificaram aspectos da cultura europeia, usando o carnavalesco como signo de dupla articulação que lhes permitiu criar contra-narrativas para zombar, perturbar e resistir ao poder colonial. Essas ideias foram então articuladas no projeto fotográfico "Careta, quem é você?", que explorou narrativas criadas para me conectar e misturar aspectos da minha própria identidade cultural dinâmica ligada à Bahia, agora enquanto artista vivendo em Aotearoa.
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