O épico e a poética da Travesía como espaço de resistência no ensino de Design.
Resumo
As "Travessias" são uma prática emblemática da Escola de Arquitetura e Design da PUCV, reconhecida como um elemento radical na formação de designers e arquitetos. Elas se originaram não de uma intencionalidade pedagógica, mas de um impulso artístico inerente à relação poesia-artesanato (e, no âmbito de uma escola, à relação professor-discípulo). Sua sistematização como parte permanente do currículo é um fenômeno posterior devido ao seu sucesso retumbante no aprendizado disciplinar. Os fundamentos teóricos e poéticos das travesías são múltiplos e variados, cada um deles essencial para a escola. Entre eles estão a observação contemplativa como ação primária do ofício, a pergunta permanente sobre a América e o ser americano, o sentido coletivo da epopeia de empreender uma aventura compartilhada e o sentido da Obra a partir de seu sentido inaugural e gratuito. Esses elementos coexistem, se cruzam e se amplificam mutuamente, constituindo a rica complexidade que define a experiência das viagens. O contexto contemporâneo impõe sérios desafios a esses princípios fundamentais, tanto na instalação de novas subjetividades e novos ethos quanto em aspectos institucionais e normativos. A maior fragilidade psicológica dos jovens resulta em uma disposição muito menor para se envolver em aventuras físicas em ambientes selvagens, com menos foco e atenção muito mais fragmentada. Em nível institucional, a judicialização da educação e o direito à educação gratuita mercantilizam o tempo, ameaçando a viabilidade das travesías como um empreendimento que excede a mera instrução, para citar apenas alguns aspectos que as ameaçam. Além disso, em uma época que defende o enfrentamento de desafios práticos mais significativos, como a sustentabilidade energética, o acesso à água potável, as mudanças climáticas ou a desigualdade social, para citar apenas alguns, um "propósito poético" é de fato um oximoro. Além disso, ele corre o risco de ser mal interpretado como irresponsável: em tempos de urgência, aparentemente não há espaço para a poesia. O sentido do design como solucionador de problemas não revela necessariamente a profundidade e a riqueza do possível. Esta apresentação busca, em primeiro lugar, examinar criticamente o significado de travesías à luz dos desafios contemporâneos e, em segundo lugar, abrir um diálogo com a comunidade acadêmica e profissional para discutir se esses princípios fundamentais ainda são reconhecidos como valiosos. Além disso, explorar novas formas e meios de reinventar as travesías, especialmente quando seus valores fundamentais são ameaçados pelas transformações culturais e sistêmicas de nosso tempo.
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