Mediações telemáticas: comentários sobre hiper-relacionamentos

  • Lara D. Balaminutti University of Campinas (Unicamp)
  • Erik N. Medina University of Campinas (Unicamp)
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

Este resumo é a síntese de um exercício teórico aplicado a uma série em andamento de colagens cujo processo teve início em 2021. O trabalho, fundamentado na crítica às hiper-relações de um ecossistema codificado e à falta do que Hui (2020) chama de tecnodiversidade, é um resultado direto da experimentação artística em nível de doutorado. Privados de contatos físicos e trocas devido à pandemia, trabalhamos e continuamos a fazê-lo à distância. Exercendo a poética sob uma condição que pode ser qualificada de exílio, comunicamo-nos regularmente para extrair, na relação algo hermética do virtual, fagulhas daquilo que um espera do outro. Esta dinâmica, representativa da condição expressa na série, ecoa a magia da colaboração ao associar a experimentação sinérgica à aprendizagem, permitindo o estabelecimento de uma experiência de choque ou surpresa, mas sempre estimulante (KIDNER, 2018). Derivada de um movimento de redução fenomenológica (FARINA, 2008), que transforma imagens tradicionais em tecnoimagens, a decisão plástica da série busca criar "performances estáticas" extraídas do modo de vida contemporâneo mediado por interfaces ubíquas. Tal estratégia, articulada sob a teoria do software — “a cola invisível que une tudo” (MANOVICH, 2008) — é o que permite a realização da corporificação como “uma oportunidade de integrar os mundos físico e digital” (JEON, 2019). A obra caracteriza-se por uma análise da presença de corpos paradoxalmente unidos na ausência. A distância entre os seres, verificada na impossibilidade de ser, aproxima os indivíduos numa experiência metafísica concebível apenas na esfera telemática. Associações desencadeadas por elementos como céu e mar fornecem a base para pensar sobre nuvens e ondas. Empregados como metáforas desnaturalizadas da Natureza, os elementos surgem como facilitadores de conexões entre corpos distantes, desencarnados e desmaterializados. A série destaca o crescente movimento social que “se move, claramente, das coisas às informações” (FLUSSER, 2008), evidenciando o caráter tangencial da fisicalidade. A redução fenomenológica é observada no afastamento da espacialidade e nos permite pensar nos termos de uma estética pós-real, que não ignora a existência do real, mas transporta suas condições de experimentação para uma escala de natureza impalpável. Pensar as relações humanas sob a dimensão virtualizada do sensível é um exercício de abstração facilitado pela homogeneidade tecnológica, condição que se estabelece na manutenção de protocolos que podem ser vivenciados em escala planetária. Isto significa que comunicadores de todo o mundo podem interagir com base em recursos comuns (software), nomeadamente desenvolvidos por empresas transnacionais que detêm soberania tecnológica. O lado negativo, paradoxalmente, deve ser encontrado na clareza destas mesmas suposições. O exercício metodológico aqui articulado é aplicado ao reconhecimento da monotecnologia, que limita as possibilidades de uma tecnodiversidade criativa (HUI, 2020) e reduz a experiência digital a uma perigosa dependência hegemônica. Mais como um diagnóstico plástico do mundo mediado por software e menos como um dossiê de grandes soluções, a série propõe reflexões sobre problemas que ressoam na experiência telemática e abordam a hegemonia tecnológica socialmente aceita.

Publicado
2021-12-05