Tornando-se meio ambiente, tornando-se pós-animista: a vida é uma utopia

  • Carlos Eduardo Tsuda Universidade do Estado de São Paulo - Instituto de Artes - UNESP - SP
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

Neste artigo, apresento estudos de caso das intervenções urbanas, instalações e performances para o espaço público da minha série de arte intitulada “A vida é uma Utopia”. “Life is an Utopia” é uma pesquisa artística e uma série de obras de arte que visa discutir questões sociais-políticas-ambientais-culturais contemporâneas por meio de uma perspectiva estética e práticas poéticas. Propõe um exercício crítico de cruzamento de fronteiras entre arte sonora, performance audiovisual, performance, instalação e intervenção urbana, que questiona a crescente desvalorização da vida face ao mercado financeiro, manifestada nas recentes catástrofes ambientais e no desmantelamento sistemático dos direitos sociais e humanos no Brasil. A partir de proposições de contraposição entre o embotamento e o contemplativo, na série a artista explora o termo cultural japonês “Ma” como uma abertura ao ambiente, a tudo que nos rodeia e não controlamos, propondo uma visão crítica do sistema através de uma perspectiva resiliente. À luz de autores de diferentes modalidades disciplinares, pratico a investigação interdisciplinar e descentralizada, hibridizando diferentes formas de produção de conhecimento através do diálogo entre a investigação teórica e a prática artística. Apresento os conceitos de tornar-se meio ambiente e tornar-se pós-animista como formas de montagens poéticas e estéticas da vida pública e suas inúmeras implicações sócio-político-ambientais na relação entre humanidade e Natureza, sociedade e espiritualidade, corpo e alma e comunidade, espiritualidade e Natureza. Com base no conceito de pós-animismo ou animismo pós-moderno, do sociólogo japonês Shoko Yoneyama, e nas perspectivas cosmológicas e animistas dos intelectuais indígenas brasileiros Ailton Krenak e Davi Kopenawa, pretendo problematizar etapas do processo criativo das obras e sua relação com a vida pública, no que diz respeito às formas de interação e participação pública, às mudanças perceptivas do espectador e à transformação das estruturas de relacionamento e estratos sociais estabelecidos no espaço. Num sentido macro, abordarei as inúmeras modalidades do experimentalismo sócio-político-artístico e do silêncio como forma de resistência e resiliência política. Neste contexto, processos criativos envolvendo a construção de redes de interatividade, a criação de redes de ativação temporária, o desenvolvimento e promoção de processos de negociação de curto, médio e longo prazos, o desenvolvimento de processos de subversão, hacking, infiltração e contaminação, a criação de sensações e distorções temporais e espaciais, e as transformações afetivas das relações interpessoais e sociais.

Publicado
2021-12-05