Ensino artístico libertário. Uma contra-pedagogia?

  • Anna Carolina Cosentino Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

O sistema capitalista mantém a lógica colonial no diálogo entre saberes e modos de vida. O acúmulo de riquezas materiais, o individualismo, a produção de bens e o consumo exacerbado têm resultado no desequilíbrio, esgotamento físico e simbólico do Planeta. O campo das artes não constitui um sistema autônomo em relação à cultura, aos modos culturais mencionados. Nele, os processos de formação de sujeitos, exclusão e discriminação decorrem também do neoliberalismo, que impõe uma educação prometeica vinculada à noção de civilidade e progresso, causando desnutrição de sentimento, sensibilidade e imaginação. O estado poético é relegado a segundo plano e restrito à expressão literária. As práticas artísticas estão inseridas nos regimes de verdade dos modelos hegemônicos que as produzem. Construir outras pedagogias exige pensar em formas de se afastar das ontologias totalizantes do chamado pensamento educacional tradicional. Há que considerar o impacto das construções teóricas europeias (hegemônicas) nas relações da sala de aula, bem como o racismo e a ausência das mulheres no campo epistêmico. É neste contexto que ganham importância as iniciativas de repensar a dicotomia entre razão e imaginação presente na cultura ocidentalizada. A imaginação é um importante fator de equilíbrio psicossocial; é por meio dela que todo o processo de simbolização, significação e desalienação do pensamento humano ocorre. Partindo da noção de que o imaginário e a racionalidade não são esferas psíquicas antagônicas, a Pedagogia do Imaginário propõe a reunião de formas racionais e poéticas de cultura a partir da reavaliação da função imaginativa e da reflexão sobre o propósito e o sentido que demos à vida e à educação. Isto sem recorrer a um conjunto de técnicas ou estratégias de ensino, muito menos tomando a Pedagogia do Imaginário como disciplina cujo conteúdo trata da imaginação ou da criatividade. Este estudo teve início com a realização da disciplina Pedagogia do Imaginário em Artes Visuais (2020.2/UFPE), onde a participação dos alunos possibilitou a compreensão da necessidade de identificar formas de resistência aos modos culturais hegemônicos, além de nos motivar a pensar sobre uma Pedagogia do Imaginário para a educação artística. Algumas questões permanecem: 1) como o conhecimento sobre arte/vida dos alunos em formação na área do ensino/aprendizagem das artes pode ser articulado com os estudos sobre a descolonialidade e o Imaginário ?; 2) como se pode conceber a Pedagogia do Imaginário para o campo da educação artística e como se articular com o debate sobre a descolonialidade?; 3) como pensam os alunos de graduação em artes sobre as possibilidades de desvio nas práticas de formação e estágio docente? O projeto de doutorado “Educação artística libertária. Uma contra-pedagogia?”, que iniciou o seu segundo ano em outubro de 2021 na FBAUP, pretende dar continuidade a este debate.

Publicado
2021-12-05