Santos paradoxais: polivocidade em uma narrativa digital AR interativa

  • Tatiana Tavares Auckland University of Technology
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

Esta tese de doutorado artística, conduzida pela prática, está preocupada com os potenciais da polivocidade e da narrativa digital interativa. O projeto prático, Saints of Paradox, é construído como um livro ilustrado impresso, que pode ser vivenciado por meio de uma plataforma de Realidade Aumentada [AR]. A história de ficção envolve uma mulher que chora o desaparecimento de seu amante no golpe militar brasileiro de 1964 e vive por 40 anos em uma sala de memórias acumuladas. Em cada ilustração, o usuário pode selecionar três botões no tablet, que ativa uma versão diferente da história. Três narradores (santos) apresentam interpretações interconectadas, mas divergentes, dos eventos moldados por suas posições teológicas distintas. Os respectivos valores de compaixão, ortodoxia e realismo pragmático distorcem detalhes de imagem, som, movimento e significado. Vinhetas animadas de RA, cada uma apoiada por uma paisagem sonora cinematográfica exclusivamente composta, permitem que os personagens povoem o mundo luxuosamente ilustrado. Velas tremulam e queimam, cobras se enrolam em canteiros de flores que respiram, e quartos mobiliados com o conteúdo das memórias acumuladas pulsam com mistério. A imagem digitalizada analisa uma paralaxe interativa que produz uma sensação de espaço tridimensional, funcionando como um componente técnico e conceitual. Teoricamente, a história navega relações entre o real e o imaginado e refere-se a modos binários reais mágicos de representação textual (Flores, 1955, Champi, 1980; Slemon, 1988, 1995; Spindler, 1993; Zamora e Faris; 1995; Bowers, 2004). Aqui, o significado negocia um caminho não confiável, às vezes paradoxal, entre a contabilidade racional e irracional e a narração polivocal. A dinâmica entre o livro e os ambientes de RA produz uma sensação de realidade mista (real e virtual). A experiência narrativa reside principalmente em um mundo virtual instável, e o livro impresso funciona como uma embarcação enigmática desocupada. Por causa disso, encontramos uma sensação de reversão ontológica em que o "virtual" responde às ambiguidades apresentadas pelo real (o livro). Na obra, o sincretismo religioso funciona como uma referência à cultura brasileira e um dispositivo artístico utilizado para comunicar uma negociação de diferentes vozes e pontos de vista. As formas estranhas e, de alguma forma, congruentes de influências europeias, africanas e indígenas fundem-se para formar o mundo da fotomontagem do romance. Fragmentos de imagens podem ser considerados marcadores semióticos de miscigenação cultural e ideológica e montados em um estado de ser um "novo" ambíguo, que sugere integridade sincrética. Metodologicamente, o projeto emana de um paradigma pós-positivista de pesquisa artística (Klein, 2010). É apoiado por uma abordagem heurística (Douglass & Moustakas, 1985) para a descoberta e o refinamento de ideias por meio da presença e da explicitação. Assim, a pesquisa baseia-se no conhecimento tácito e explícito no desenvolvimento de uma narrativa ficcional, estrutura e tratamentos estilísticos. Uma série de métodos de pesquisa foi empregada para avaliar o potencial comunicativo do trabalho. A colaboração com outros profissionais permitiu altos níveis de experiência e forneceu uma plataforma informada de troca e progressão de ideias.

Publicado
2021-12-04