Indo para a argila: explorando conflitos e valores do solo em Valparaíso

  • Daniela Salgado Cofré Université Libre de Bruxelles / Pontificia Universidad Católica de Valparaíso
  • Álvaro Mercado Jara Université Libre de Bruxelles / Pontificia Universidad Católica de Valparaíso
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology
Palavras-chave: Clay, Collective Creation, Material Interdependence, Soil, Urbanisation

Resumo

Esta proposição apresenta um desenho e pesquisa artística voltada para o solo, que visa gerar formas ativas e poéticas de reflexão em torno da frágil interdependência da vida humana e não humana em um ambiente urbano cada vez mais precário, enfatizado pela atual crise ecológica. A fim de se engajar em tais reflexões, esta pesquisa orientada para a prática — conduzida por designers, arquitetos, artistas e educadores — coleta modos relacionais de interdependência material na região de Valparaíso, Chile, explorando veios e poços de argila para a fabricação de cerâmica, que são relevantes e conhecidos por artesãos e artistas dessa área. Esses espaços estão ameaçados pelas condições ambientais cada vez mais precárias, que são exacerbadas pela monocultura da terra, a reconstituição do solo por grandes projetos de urbanização e a inacessibilidade aos poços de argila, devido à substituição dos comuns pela privatização e exploração da terra. Estes conflitos urbanos geram uma desterritorialização do solo que contrasta com a significativa relevância e valores que estes espaços têm para artistas, artesãos e outros grupos que promovem a sua proteção e interação respeitosa com o solo. Neste contexto, esta pesquisa orientada para a prática explora e espera tornar visível a transformação dessas terras, acompanhando os usos do solo, identificando conflitos e valores que emergem em torno desses sítios de extração por meio de experiências sensíveis imersivas. Essas imersões em diferentes poços de argila consistem em caminhar, observar o solo, sentir o espaço, coletar argila do solo e manipular o material para explorar suas propriedades. Assim, ao examinar os materiais, vozes e expressões artísticas —na forma de poemas, composições sonoras, imagens, desenhos, fotos, cartografias e objetos de argila— coproduzidos durante quatro imersões em veios diversos da região de Valparaíso, esperamos trazer de volta à cena modos alternativos de reflexividade em torno desses locais. Esta soma de experiências coletivas de exploração e criação nos veios e fossos de argila de Valparaíso serve para traçar outras formas relacionais de habitar, valorizar e trabalhar com o solo. Portanto, vislumbramos este projeto de pesquisa orientado para a prática como uma alternativa poética para questionar criticamente as lógicas tecnocráticas modernas de urbanização, que operam na região por meio da mercantilização e da superexploração do solo.
Publicado
2021-12-02