O Paraíso é para todos

  • Lynn Carone University of Brasilia
  • Fernando Pericin University of Brasilia
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

“O Paraíso é para todos” é um filme produzido por Lynn Carone e Fernando Pericin, resultado da combinação de três projetos anteriores em diálogo, derivados da investigação de ambos, e que contemplam temas como corpos, territórios e ocupações urbanas. A vídeo performance "It's many layers" de Lynn Carone e de um amigo artista nasceu da observação de um lugar e da estranheza por ele provocada. Eles utilizaram um local específico para realizar o trabalho com foco no racismo. O território físico foi um estímulo para a reflexão sobre o racismo estrutural e a busca de reparação para assumir uma postura antirracista. Para a performance do vídeo, foi considerado o conceito de site-specificity, pensado como site-oriented, no qual, segundo Miwon Kwon (1977), a obra não seria apenas "um substantivo/objeto", mas um "verbo/processo", provocando a acuidade crítica, não só física e fenomenológica, do espectador, mas também, às condições ideológicas desta vivência — neste caso, a constatação da especificidade do nome do restaurante "Senzala", que significa alojamento de escravos — localizado em um bairro de classe média alta de São Paulo, Brasil. A obra "The Contemporary Gay", do "autor2", nasceu da indignação em relação às agressões a pessoas que se desviaram do padrão de gênero e sexualidade, nos últimos anos, amparada por reflexões sobre o texto "O que é contemporâneo?", de Giorgio Agamben. Segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia, 174 homossexuais foram vítimas de morte violenta no Brasil em 2019. Em tempos de pandemia, reivindicando seu direito de protestar, Fernando usou as ruas vazias como base e seu corpo como apoio para realizar uma atuação solitária para expressar sua indignação e provocar reflexões sobre as decisões e declarações do atual governo sobre a população LGBTQIA+. Em 2021, Lynn Carone e Fernando Pericin promoveram a continuidade de um trabalho iniciado em 2019, quando conheceram, entrevistaram e fotografaram uma mulher transexual em seu local de trabalho, resultando no vídeo "Transfly", que provoca reflexões sobre as pesquisas dos artistas , como o lugar e suas especificidades, preconceitos, opressões, reencontros e religações. As reflexões sobre as três obras proporcionaram um (re)encontro entre os artistas e suas poéticas e resultaram no vídeo experimental “O Paraíso é para todos” como forma de expressão e elaboração de um pensamento visual, que inclui as vivências nos territórios da cidade, as especificidades dos lugares como propulsores questionadores, as posições pessoais na micropolítica assumidas como postura de vida e transformação pessoal, repensando os modos de relacionamento. Os registros revisitados como arquivos permitiram releituras em colagens, sobreposições de imagens e sons, situando as três produções em um cenário que transita entre a realidade e o pesadelo, dando continuidade às discussões da obra em andamento. Priscila Arantes (2015, p. 120) ajuda-nos a compreender este caminho, quando afirma que “a obra de arte contemporânea é, com efeito, um arquivo num sentido muito particular: uma obra-arquivo aberta a inúmeros desdobramentos, leituras e múltiplas narrativas".

Publicado
2021-12-05