A Senhora do Balé: relações entre máquinas e emoções

  • Miguel Alonso ECA - USP
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

Este trabalho é resultado da pesquisa de mestrado, "Máquinas e Emoções na Arte", realizada sob a orientação da Profa. Dra. Rosangella Leote e dentro do grupo de pesquisa GIIP, IA-Unesp, São Paulo, Brasil. Pelas máquinas, os intermediários da tecnologia surgiram, pelas emoções, pelas complexidades biológicas e semânticas, criando um labirinto para o desenvolvimento da investigação teórica. Mas o trabalho artístico trouxe a flexibilidade e o ponto de fuga para a exposição “A Senhora do Balé", 2019, realizada na galeria do Instituto de Artes da Unesp, São Paulo, Brasil. O título da exposição está relacionado a Iansã, orixá senhora dos ventos e das tempestades, e que cuida das almas desencarnadas. Esta relação metafísica aproximava os cemitérios (Balé) das máquinas das relações humanas com seus ancestrais (Eguns). Além de Iansã, os orixás são abordados na materialidade das obras, com o uso do ferro, elemento do Ogum, orixá da tecnologia. O objetivo inicial da proposição era elaborar um inventário de obras artísticas que apresentassem máquinas com caráter antropomórfico. Mas, antes de chegar a essa aproximação da máquina como forma humana e considerando todo o percurso elaborado, destacou-se um tipo de máquina, as máquinas-ferramentas, e, com elas, as relações humanas com as ferramentas. As máquinas foram tomadas como pilar de todas as relações construídas que se desdobravam na vontade de se aprofundar nos objetos antropomórficos, como autômatos e robôs, e nas teorias sobre a consciência humana, na neurociência e na psicologia, pois assim se buscavam as emoções. Partiu-se do pressuposto de que as emoções estão imbricadas em níveis que uma máquina pode desenvolver, nas narrativas possíveis, considerando a faculdade de design como elo entre a criação humana e a convivência com dispositivos técnicos. Considera-se, então, que uma máquina pode, de fato, ser pensada como um objeto artístico; pode ser transformada, pervertida, mas, também, projetada para tal. Para tanto, foram projetados objetos que são máquinas e que são obras de arte, transformando a pesquisa teórica em um trabalho artístico, em narrativas, em poesia, em arte, que permeia uma experiência cotidiana que se refletiu na galeria, povoada de objetos, máquinas e luzes. As máquinas, aqui, representam identidades para conceitos, porque não representam apenas um conceito, mas também são, na verdade, uma junção de material e abstração, de características mais universais e características pessoais — e, assim, criou-se um paralelo com os orixás. Os orixás são divindades, santos e deuses, que relacionam as forças da Natureza e as características humanas, e estão presentes nas religiões brasileiras e nos mitos de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Este trabalho está repleto de paradoxos, pois o universo científico não permite experiências artísticas com tanta facilidade. Desta forma, esta apresentação traz um memorial descritivo da criação das obras que compõem "A Senhora do Balé" e que constituem a investigação teórica.

Publicado
2021-12-05