Uma breve pesquisa sobre as características das exposições virtuais recentes

  • Felipe Bortoluzo Mamone Universidade de São Paulo
  • Letícia Brasil Freitas Universidade de São Paulo
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

A pandemia de COVID-19 e as medidas de restrição social que se seguiram tiveram um impacto decisivo nas atividades dos museus nos últimos dois anos. Pesquisas do Conselho Internacional de Museus (ICOM) indicam que cerca de 95% dos museus mundiais foram fechados entre abril e maio de 2020, número que caiu para 27% no mesmo período de 2021. Diante deste cenário, houve um aumento notável nas comunicações e atividades digitais destas instituições, através da disponibilização on-line de acervos e exposições, da gestão das redes sociais, da realização de eventos e programas de ensino ao vivo ou da produção de newsletters e podcasts. Embora essas pesquisas sejam essenciais, também é necessário complementá-las com pesquisas qualitativas sobre as formas como essas atividades estão sendo realizadas. Este artigo examinará como um tipo específico de atividade digital está sendo desenvolvido pelo setor museológico, a saber, as exposições virtuais. Caracterizados principalmente pela tridimensionalidade e pela imersão do interator, esses espaços expositivos virtuais carregam tanto a complexidade que constitui a ideia de um museu virtual, quanto as deficiências estruturais que afetam as instituições culturais e, em particular, seus setores de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs). Assim, foram escolhidos dois critérios para caracterizar estas exposições, a saber, as tecnologias habitualmente utilizadas na sua concepção e a relação que estabelecem ou não com um espaço tangível. Para isto, foram selecionados e analisados casos recentes de espaços construídos através da utilização da fotografia 360º e da modelagem 3D, de forma a evidenciar as características distintivas destas tecnologias e como elas instanciam diferentes relações entre elementos do digital e do tangível. Esta análise leva em consideração elementos específicos dessas exposições, como suas interfaces e os modos de deslocamento e visualização que permitem, a qualidade da reprodução das obras e a possibilidade de acessar informações e mídias complementares sobre elas, a multiplicidade dos pontos de vista, sua compatibilidade com determinados dispositivos, entre outros. Por fim, refletiremos sobre a forma como essas exposições virtuais replicam, aumentam ou dispensam os espaços físicos para sua concepção. Ao invés da habitual oposição entre virtual e atual, tais espaços expressam a possibilidade de complementação entre elementos restritos ao tangível ou ao digital — complementação, desnecessário dizer, que nem sempre ocorre. Assim, as exposições virtuais são vetores importantes para refletir sobre as vantagens e dificuldades que as tecnologias digitais representam para o setor museológico.

Publicado
2021-12-05