Novo design transmídia para festivais de cinema tradicionais

  • Andre Fischer UFSCar - Federal University of São Carlos / Geminis
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

O processo de transformações disruptivas no setor audiovisual foi inesperadamente acelerado após a pandemia de COVID-19. Isto provocou um rearranjo na cadeia de distribuição, exibição e circulação, reestruturando, assim, todo o design dos festivais de cinema, antes considerados o ponto de partida de toda esta indústria e fortemente baseados em localizações físicas específicas. O streaming tornou-se a principal forma de distribuição de conteúdo de imagem e som. O entretenimento tornou-se multiplataforma e interativo, mudando a forma como as narrativas são estruturadas e esses conteúdos são produzidos e consumidos. A convergência das mídias tornou porosas as fronteiras entre o que se convencionou chamar de vídeo, cinema, teatro e performance. O processo de plataformização mudou definitivamente o modelo tradicional de distribuição audiovisual, staff e curadoria de festivais — que passam por uma operação de hibridização que permite o uso potencial de recursos interativos e entrega on-line de filmes, peças e performances para públicos de todo o mundo. Para entender o potencial das transformações, o estudo investiga em profundidade a experiência do Festival MixBrasil, maior evento cultural LGBTQIA+ da América Latina, criado por mim em 1993, apresentando diversos formatos e técnicas (cinema, teatro, música, literatura). Com conteúdo digital programado desde 2018, em 2020 ampliou sua exposição on-line para quatro plataformas digitais diferentes. O estudo é feito concomitantemente ao acompanhamento do MixBrasil e de outros festivais de cinema realizados no Brasil, considerando quais estratégias estão sendo adotadas e como se destacarão como inovadoras — ou apenas réplicas do modelo tradicional de cinema. Também visa identificar processos, caminhos e perspectivas para o setor, considerando que o antigo modelo de lançamento de filmes utilizado desde a década de 1950 pode não ser mais aplicável ao estado atual da indústria. Fatos e tendências que obrigam estes eventos a enfrentar uma crise de identidade e questionam a viabilidade de um circuito (ainda) prestigioso. A plataformização implica a adoção de funcionalidades on-line integradas a nível econômico e de infraestrutura que afetam plenamente as estratégias de organização dos festivais. Portanto, está em curso uma mudança na forma de pensar o lugar dos festivais de cinema na cadeia do setor: como espaço possível de captação de dados do público para subsidiar futuras curadorias e ações permanentes que os tornem mais dinâmicos e relevantes. Associada a esse processo, está a noção de economia da atenção e a reorientação dos usuários como produtores ativos de cultura, na forma como podem afetar o futuro híbrido dos festivais. Métricas usadas recorrentemente como taxas de engajamento, geolocalização, retenção e abandono são necessárias para identificar obstáculos e potencialidades que o novo cenário apresenta. A pesquisa está levantando questões adicionais sobre o comportamento e as expectativas das diferentes faixas etárias, as motivações do público para participar de festivais. Também investiga porque, embora as salas de cinema estejam fechando, os distribuidores mantêm restrições às exibições em festivais. Esta é uma oportunidade única para refletir sobre as perspectivas dos festivais audiovisuais, de forma a captar a atenção do telespectador, reposicionar a sua relevância para a sociedade, obter o (re)conhecimento de diferentes públicos e forjar novas experiências.

Publicado
2021-12-05