Filme como parte da tese e montagem como método para as ciências sociais

  • Priscilla Regis Brasil Universidade de Coimbra
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

Entendo o filme como um suporte para a escrita em fragmentos. Parece que esta forma, capaz de transportar movimentos e tempos, testemunhos e textos, passados e presentes, é uma das mais adequadas para a história do espaço. Há uma forma visual de conhecimento e uma sabedoria do olhar, como no Atlas de Warburg, amplamente desconsideradas pela Academia como forma de produção de conhecimento. Se encontro um dispositivo polifônico que usa restos esquecidos e narrações heterogêneas para desmontar a história oficial e remontar outra história a partir de suas constelações críticas, nenhum instrumento me parece mais adequado do que um filme para alcançar novos resultados. Proponho um filme, não como uma ilustração de ideias de tese, nem como um instrumento capaz de expandir a comunicação de uma tese a comunidades não acadêmicas, apesar de considerar este ponto fundamental para as experiências de descolonização. Proponho a utilização da montagem cinematográfica como método de produção de conhecimento, como parte importante da pesquisa e experimentação e cujo resultado será parte constitutiva e indissociável da tese. Proponho uma experiência combinada de texto e montagem visual. O encontro permite a simultaneidade de tempos e o surgimento de sintomas, a revelação de fracassos, conflitos, heterogeneidade, desafiando a tradição e colidindo com o texto. Se o encontro serve para tudo isso, também serve para apoiar a descolonização de perspectivas e metodologias, a recriação da história dos subalternos e para desvendar as histórias ocultas dos impérios. Ajudaria a articular memória, narração e história, na tentativa de apreender a realidade. Além da montagem dos fragmentos, a interferência do autor na narrativa é um ponto crítico da experiência proposta e também do filme. É preciso dar conta de si mesmo, não apenas pela mera presença, mas por um processo de reflexividade capaz de revelar os pressupostos epistemológicos subjacentes que determinaram as particularidades do encontro. Prestar contas da posição a partir da qual se narra é, portanto, fundamental. O que proponho é a integração do filme na organização geral da tese, de forma que os capítulos possam variar entre os dois suportes, sendo organizados de acordo com o que o material indica — numa interpolação entre capítulos de texto e capítulos de vídeo. A utilização do filme como suporte da tese é adequada à produção da história do espaço e contém atributos muito mais complexos do que seu mero valor comunicacional. Entendo o valor do filme como instrumento para um retorno mais amplo dos resultados da pesquisa à sociedade, mas, para o espaço e sua história, o uso da transversalidade de imagens em movimento pode abrir todo um novo campo de inovação e experimentação.

Publicado
2021-12-05