Imaginações participativas de futuros

  • Juliana Valentim Faculty of Engineering University of Porto
  • Marcos Steagall  (Translator) Auckland University of Technology

Resumo

A conjuntura contemporânea de crises ecológicas e sociais generalizadas convoca o pensamento crítico sobre mudanças culturais significativas no design de mídia digital. As práticas de seleção e classificação que marcaram a história da escravidão e da colonização agora contam com todos os tipos de nanotecnologias. Em nome do futuro, os corpos tornaram-se territórios ampliados de intervenção soberana, onde o papel dos poderes contemporâneos possibilita a extração e mineração de materiais, sondados desde a esfera mais íntima de si. Essa lógica exige que o estado de exceção se torne a norma, de modo que a crise seja o diferencial crítico da mídia digital: ela corta o fluxo constante de informações, diferenciando o que é temporalmente valioso do mundano, oferecendo aos usuários um gostinho de responsabilidade em tempo real e fortalecimento. Deste modo, esta pesquisa visa explorar as transformações dinâmicas do ambiente midiático e seus impactos nas relações fundamentais do ser humano com o mundo, o self e os objetos. Ele desdobra preocupações em torno dos ataques neocoloniais à agência humana e à autonomia que ressoam nos padrões estruturantes emergentes da infraestrutura digital do neoliberalismo e nas relações dos seres humanos com o mundo. Contesta os imaginários, os regimes representacionais e as possibilidades de percepções da realidade com representações universais, patriarcais e extrativistas. Esta pesquisa também busca formas alternativas de educação para a mídia e resistência política por meio de sua prática colaborativa, perseguindo uma investigação atenta e aberta sobre as possibilidades latentes para projetar novas ferramentas de comunicação e informação em contextos materiais vividos: como podemos representar infraestruturas de mídia invisíveis? Como produzir conhecimento sobre esse espaço e apresentá-lo publicamente? Como essas representações podem ser mobilizadas politicamente como argumentos ecológicos e sociais para estabelecer um debate público? Como as sensibilidades artísticas, a estética e o campo visual podem influenciar o que se pensa desse espaço de fronteira? Finalmente, como a arte, o brincar e a pesquisa podem intervir e participar? Para isso, o projeto envolve métodos participativos para criar espaços de diálogo entre diferentes epistemologias, questionando as formas de raciocínio ético e criativo nos meios de comunicação e sistemas de comunicação planetários; por fomentar a imaginação tecnopolítica por meio de futuros lúdicos e participativos e estruturas de design de transição como uma práxis ética da criação do mundo; e por uma reconceitualização da autonomia como expressão da interdependência radical entre corpo, espaços e materialidade. A pesquisa tem como objetivo fornecer uma estrutura para projetar ferramentas de mídia, que incorpora princípios básicos de design e diretrizes de agência e autonomia coletiva. Também envolve a conversa transnacional sobre design, uma contribuição que decorre de lutas e experiências epistêmicas e políticas latino-americanas recentes, e o debate mais amplo em torno de formas alternativas de restaurar laços comunitários, conquistar espaços de discussão públicos e resistências tecnopolíticas, por meio de práticas de pesquisa colaborativa e métodos participativos.

Publicado
2021-12-05