Através da lente do imigrante: Uma Reflexão sobre o Conceito de Habitus Clivé de Pierre Boudier através da Fotografia

Palavras-chave: Imigração, fotografia, Pierre Bourdieu, Habitus Clivé, Cleft Habitus

Resumo

Este artigo explora a prática criativa da fotografia de imigrantes, examinando especificamente o trabalho artístico de imigrantes que escolheram a Austrália como local de assentamento. Analisando seus trabalhos fotográficos, o artigo reflete sobre o conceito de habitus clivé de Pierre Bourdieu, que desenvolve a noção de um eu fraturado ou dividido. Essa divisão surge quando os indivíduos enfrentam contextos sociais conflitantes, resultando em tensão interna ou dissonância em seu senso de identidade. No contexto da migração, o habitus clivé pode se manifestar de várias maneiras, como tensões ou conflitos entre tradições culturais e novos contextos culturais. Além disso, a migração pode envolver adaptação e ajuste, nos quais os indivíduos podem incorporar seletivamente elementos da nova cultura em seu habitus existente e, ao mesmo tempo, manter aspectos da identidade cultural associados ao seu país de origem. Esses processos de negociação e hibridização podem contribuir ainda mais para o desenvolvimento do habitus clivé. Para Bourdieu, essas contradições internas na identidade social de uma pessoa não são estáticas, mas evoluem por meio de interações sociais contínuas. Ao examinar de perto os fotógrafos imigrantes, o artigo destaca as narrativas visuais que surgem, ilustrando como a fotografia pode transcender as fronteiras físicas, criando um espaço intermediário entre o deslocamento e o assentamento. Esse espaço se torna um mecanismo potente para promover um senso de pertencimento que se estende além das fronteiras geográficas. É interessante notar que esse sentimento não está vinculado a um local geográfico específico, mas, em vez disso, abrange uma noção mais ampla e internalizada de lugar. Essas mudanças se alinham com o conceito de habitus clivé à medida que os indivíduos navegam pelas complexidades da migração e do assentamento. Como mídia, a fotografia permite que os indivíduos habitem esse espaço provisório de familiaridade, possibilitando a incorporação e facilitando a conexão com um senso de lugar que transcende as noções tradicionais de pertencimento. O artigo discute como a fotografia pode fortalecer as narrativas dos imigrantes, apoiando um senso de pertencimento e, ao mesmo tempo, capturando as diversas experiências dos indivíduos que enfrentam os desafios da imigração e da colonização.

Biografia do Autor

Aline Frey, The Universty of Queensland

Aline tem trabalhado em projetos de pesquisa, ensino e artísticos no Brasil, Nova Zelândia e Austrália. Ela equilibrou a excelência em pesquisa com um histórico de projetos artísticos como fotógrafa e cineasta independente, e atualmente é bolsista de pós-doutorado na Faculdade de Artes, Design e Arquitetura da UNSW, Austrália.

Marcos Mortensen Steagall, Auckland University of Technology
Marcos Mortensen Steagall é professor associado do Departamento de Design de Comunicação da Auckland University of Technology (AUT). Em suas pesquisas e atividades profissionais, o Dr. Mortensen Steagall explora a interseção da semiótica visual e metodologias orientadas para a prática em arte, design, comunicação e tecnologia. Sua prática artística, centrada principalmente na criação de imagens digitais e baseadas em lentes, serve como um método para a produção de conhecimento. O trabalho do Dr. Mortensen Steagall é caracterizado por uma abordagem interdisciplinar que mescla a pesquisa acadêmica com a prática artística, destacando a importância de se adotar diversas narrativas culturais e sistemas de conhecimento em Design. Além disso, ele é editor da revista acadêmica LINK Praxis e preside a Conferência Internacional LINK, que se concentra na pesquisa orientada pela prática e no Sul Global.

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Publicado
2024-10-19